sexta-feira, 11 de julho de 2014

Guerra santa em Israel?

Guerra santa em Israel?

Participei ontem (07/08/2006) de um debate em um canal UHF (www.rittv.com.br/vejamso/) sobre a guerra de Israel contra o Líbano, que foi deflagrada com as mortes e seqüestro de soldados israelenses. Primeiro o Hamas (ao sul de Israel), invadiu as fronteiras de Israel, matou soldados e seqüestrou um deles. Depois, o Hezbollah fez coisa semelhante nas fronteiras do norte de Israel. Em ambos os casos, Israel reagiu com força militar maciça contra os ataques recebidos.

As reações à reação de Israel são variadas entre os cristãos, desde aqueles que abominam completamente a ação de Israel até aqueles que crêem que esta é uma guerra santa, abençoada por Deus, no mesmo espírito e modelo das guerras bíblicas. Sabemos que para o Hezbollah, esta é uma ‘guerra santa’, mas como os cristãos podem analisar a questão?

Com este post quero expressar a minha posição teológica quanto a Israel hoje e também minha leitura do direito de Israel à auto defesa.

1. Questão Teológica
Na visão de muitos cristãos (e judeus), a nação de Israel que hoje se encontra no Oriente Médio, estabelecida pela ONU em 1948 sobre territórios ocupados por ingleses na época, é um literal cumprimento de diversas promessas e profecias bíblicas do Antigo Testamento. Esta leitura vê, por exemplo, que a restauração da nação israelita é o caminho de Deus para cumprir a promessa de bênção a Abraão e a aliança eterna de Deus com a casa de Davi. O fato de a nação israelita ter ‘reaparecido’ no cenário mundial depois de quase 2 milênios da diáspora é visto não só como uma ação soberana de Deus (o que eu creio, pois todas as manifestações históricas retratam a soberania de Deus ), mas também como a manifestação da vontade de Deus prescritiva conforme expressa na Bíblia (o que não creio, pois procura-se “enxergar” em demasia os caminhos de Deus nos traços da história, esquecendo-se o todo da Revelação Especial). Logo, é ação soberana de Deus, mas não está revelada nas Escrituras.

Não seria a primeira vez que Israel “reaparece” na história da humanidade como nação. Depois da destruição do primeiro templo e do cativeiro na Babilônia por um período de 70 anos, a nação voltou ao seu território e se restabeleceu, agora debaixo do domínio Persa. A diferença entre o primeiro ‘reaparecimento’ de Israel e este segundo, em 1948, é que o primeiro é claramente estabelecido na Bíblia como o resgate da disciplina de Deus sobre seu povo e as profecias são muito claras, inclusive quanto ao tempo da volta do cativeiro e até com o nome de quem seria o seu libertador (Ciro). Não tenho qualquer dificuldade em compreender nesses atos de Deus o cumprimento de profecias, conforme registradas na Bíblia. Afinal, creio plenamente na inspiração, inerrância e autoridade das Escrituras. O que não consigo ver, como muitos hoje vêem, são profecias claras a respeito do Israel de hoje, a se cumprirem na atualidade e no final dos tempos. Aliás, a maioria dos intérpretes reformados compreende que a nação de Israel, com a vinda do Messias e sua conseqüente negação, perdeu o seu papel bíblico como agente do Reino do Deus, tendo Israel sido incorporado pela igreja do Senhor Jesus. A igreja é o verdadeiro Israel de Deus, formado por toda língua, raça, povo e nação.

Creio na eleição de Israel como etnia para trazer ao mundo os oráculos de Deus e o próprioMessias, mas este papel se extingue quando, em Cristo, as promessas feitas aos verdadeiros crentes, os filhos de Abraão na fé, israelitas de sangue ou não, são cumpridas. O rei davídico, o descendente de Abraão, Jesus Cristo, está assentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso, e de lá há de vir para julgar os vivos e os mortos. A ‘menina dos olhos’ de Deus é a sua Igreja, o verdadeiro Israel, composto dos remidos do Senhor em todos os tempos, em ambas as dispensações. Existem muitos cristãos não dispensacionalistas que acreditam na possibilidade de que as Escrituras apontem para um futuro glorioso para a nação de Israel. Ainda que eu veja isto como uma possibilidade, ainda não fui decididamente convencido.

Sei que este é assunto por demais polêmico e pretendo responder a alguns comentários, mas prometo, não vou responder a todos. Para uma leitura específica sobre esta posição recomendo: O. Palmer Robertson, O Israel de Deus: passado, presente e futuro (Editora Vida) e David Holwerda, Jesus e Israel: uma aliança ou duas? (Editora Cultura Cristã). Se você está preocupado com o cumprimento do sermão escatológico de Jesus e o relaciona especificamente a Israel, sugiro a leitura do recém lançado “Ainda não é o fim”: uma exposição do sermão escatológico de Jesus, por não menos do que nosso co-blogueiro, Augustus Nicodemus Lopes (Luz para o caminho publicações).

2. O direito de defesa
Ainda que não creia que a presente nação de Israel seja a mesma coisa que o Israel bíblico e as profecias bíblicas não se refiram diretamente a este Israel que está em guerra com o Líbano, creio que qualquer nação tem o direito de defesa do seu território e de sua soberania. Israel tem sido atacado por povos de outras nações e precisa usar dos meios necessários para a proteção de sua população, fronteiras e propriedade. Se qualquer nação vizinha ou longínqua atacar o Brasil, o mínimo que eu espero é que o nosso governo federal reaja em proteção ao seu próprio povo (mesmo que seja um ataque a uma propriedade brasileira no exterior, quem sabe uma refinaria da Petrobrás).

Ainda que uma guerra por si nunca seja boa, ela é muitas vezes necessária. Creio na doutrina da ‘Depravação Total’ e já cresci o suficiente para saber que esta depravação, muitas vezes, não permite que situações se resolvam satisfatoriamente. Tanto os israelitas quanto os libaneses se encaixam plenamente neste status e, conforme sua natureza, vão tentar resolver as diferenças – um atacou o outro e, enquanto um não abrir mão de seus direitos, ou ambos, não existirá uma solução.

Pesa contra Israel a acusação de que a reação aos ataques recebidos foi desproporcional, ainda que as notícias nesse sentido procurem ignorar as repetidas agressões infligidas contra aquela nação por várias décadas. Pesa contra o Líbano o fato de manter dentro de suas fronteiras um exército não oficial, sobre o qual o governo ‘não tem controle’. Ou seja, o governo do Líbano não ataca a Israel, mas, em tese, abriga um grupo que manifesta seu ódio à nação vizinha atacando-a. Pesa ainda o fato de que esta força de guerrilha se abriga no meio da ‘população civil’, em meio a escolas, lugares de comércio, fazendas, etc., usando a população como escudo e desculpa. Se, por um lado, a força bruta usada por Israel nos assusta, a covardia de manter força bélica no meio de casas com civis, mulheres e crianças também impressiona. Não podemos ignorar um fato com freqüência esquecido pelos meios de comunicação: como bem disse o primeiro ministro de Israel, “a diferença entre nós é que quando atingimos civis, reconhecemos e lamentamos o erro, enquanto que eles celebram e comemoram exatamente isso”.

Creio que o conceito expresso na Confissão de Fé de Westminster sobre guerra justa, pode ser o nosso princípio de análise para a questão (Capítulo XXIII: Do Magistrado Civil):


II. Aos cristãos é licito aceitar e exercer o ofício de magistrado, sendo para
ele chamado; e em sua administração, como devem especialmente manter a piedade, a justiça, e a paz segundo as leis salutares de cada Estado, eles, sob a
dispensação do Novo Testamento e para conseguir esse fim, podem licitamente
fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias.
Prov. 8:15-16; Sal. 82:3-4; II Sam. 23:3; Luc. 3:14; Mat. 8:9-10; Rom. 13:4.

As perguntas que precisamos fazer antes de conclusões precipitadas e, por vezes, teologicamente equivocadas, que levam alguns a subscrever tudo o que a atual nação de Israel faz; ou antes de manter discursos inflamados que refletem tão somente a visão simplista da mídia e o bordão de “reação proporcional” (o que seria mesmo isso – matar apenas 1:1?) seriam: Esta guerra é necessária? Esta guerra é justa? Esta guerra é lícita? É impossível ter todas as respostas agora. Muitos desdobramentos ainda virão. Além disso, devemos orar e rogar a Deus pelos libaneses, israelitas e nossos irmãos cristãos que estão em ambas as fronteiras desta guerra e que estão sofrendo e morrendo. Uma coisa é certa: não há guerra boa, que Deus abrevie o fim desta, com a possibilidade de que a justiça prevaleça e que uma paz duradoura se estabeleça para aqueles que assim a desejam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário